sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Dirigente Esportivo no Brasil


Esta semana no programa “Bem, Amigos” do canal Sportv, houve um debate bastante interessante acerca da administração do esporte no Brasil, com as presenças dos técnicos de futebol Levir Culpi e Dorival Jr, além das presenças do staff da casa, Junior, Alberto Helena Jr, Caio Ribeiro, Bob Faria, Arnaldo Cesar Coelho e Luiz Roberto. As opiniões apresentadas foram coerentes e possivelmente expressaram os pensamentos de muitos esportistas entre nós, independentemente de modalidade esportiva.

De cara, o que mais me assusta é a irresponsabilidade de vários dos dirigentes, cujas atitudes mostram uma preocupação mais voltada para si próprio do que para o bem do clube. Dívidas ignoradas (falta pouco para alguns dos grandes clubes brasileiros atingirem a marca de meio bilhão de reais de dívida), controle de gastos ausente, contratações sem sentido (a não ser atender a empresários), entre outras coisas. O basquete nacional não se encontra no mesmo patamar de investimentos e visibilidade do futebol, por isso esse tipo de situação não é tão comum na mídia. Mas, até quando estaremos de fora deste tipo de noticiário?

O esporte de alto rendimento precisa ser gerido empresarialmente. Por isso não há mais lugar para dirigentes sem algum tipo de formação básica. Contar apenas com a boa vontade dos abnegados não pode ser a saída para o desenvolvimento esportivo no país. A falta de conhecimento acerca de planejamento estratégico é uma barreira ao crescimento da modalidade. Precisamos de dirigentes que sejam ousados e criativos, porém responsáveis e responsabilizados por seus atos.

Além disso, deve haver algum grau de conhecimento ou assessoria específica sobre como funciona um programa de treinamento a longo prazo. Caso contrário, erros graves serão (e são) cometidos. Tempos atrás, quando eu era técnico da categoria sub-12 (pré-mirim) no Rio de Janeiro, por exemplo, estive numa reunião na Federação de lá para tratar de como seria o primeiro torneio da faixa etária naquele ano. Era março ou abril, e o diretor da federação queria iniciar a disputa já naquele mês. Antes da reunião, os técnicos presentes conversavam sobre suas equipes, e com exceção de duas, todas as demais (umas cinco ou seis) não estavam preparadas para jogar. Como essa era a categoria mais jovem entre todas, vários atletas haviam ingressado pouco tempo antes na escolinha do clube para aprender os mais básicos fundamentos do jogo.

Quando começou a reunião, pedi a palavra e sugeri que o torneio fosse adiado para o 2º semestre, dando tempo para que aqueles neoatletas pudessem aprender o suficiente para disputar uma partida oficial. Aqueles times que se julgassem prontos marcariam amistosos como jogo preliminar do campeonato adulto. Todos os treinadores concordaram. Mas o diretor da entidade disse: “É, só que agora ficou muito em cima. Vamos fazer esse torneio agora e depois a gente pensa nisso.”

Sejamos francos, quem gosta de competição, gosta de ganhar. Assim, todas as equipes queimaram etapas na formação dos atletas em busca da possibilidade de vitórias. Alguns times eram ainda muito iniciantes, e suas derrotas chegaram a ultrapassar os 100 pontos de diferença no placar. A maioria dos jovens atletas derrotados perversa e continuamente abandonaram o esporte ao final daquele torneio. Os próprios clubes limitaram seus investimentos, visto que apenas as vitórias e os títulos interessavam.

Não é proibido ser campeão, mas o verdadeiro papel do treinador da base é participar e dar continuidade ao processo de formação de atletas no longo prazo. Observe que não mencionei que o papel é formar atletas e sim dar continuidade ao processo, de modo a evitar a falsa impressão de que já aos 13 anos de idade o atleta precisa saber de tudo da modalidade, todas as regras, todos os sistemas de jogo, todas as plataformas de defesa, todos os fundamentos, enfim, todas as situações de jogo. Precisa haver um planejamento no qual seja estabelecido o que cada faixa etária deve aprender ao longo do ano, tornando o aprendizado gradativo e cumulativo.  

Se o dirigente não entender isso e se o treinador da base achar que seu emprego depende de troféus e medalhas, o país nunca será um eficiente formador de atletas, e ficaremos a mercê da natural evolução dos nossos talentos, ou ainda da importação de estrangeiros para compor nossa seleção nacional.

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